quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A CASA DA ARQUITETA RENÉE SBRANA - BOIPEBA / BAHIA

A casa da arquiteta Renée Sbrana, é um conjunto de seis pequenas construções implantadas em um terreno de 1000m², Boipeba, litoral sul da Bahia. Partido arquitetônico definido pelo desejo de preservar todas as árvores importantes do lote. Tecnologia a mais rústica possível, facilitando assim o uso de materiais comuns na região e da mão-de-obra local.
As imagens sugerem um modo de vida particular, ligado à terra, sem os limites comumente propostos pela arquitetura, com paredes, jardins projetados, muros e estruturas pesadas demais para o solo. A casa da arquiteta é o lote, uma casa que respira, que permite a água escorrer e retornar ao chão, que permite que seus moradores convivam com plantas, bichos e as mudanças do clima.
Uma casa assim só é possível em municípios sem legislações rígidas, com natureza generosa e um modo de vida despojado. O primeiro conceito é simplicidade.
O programa composto de sala, serviço (cozinha e área de serviço) e quartos de dormir, como de qualquer casa: espaços comuns de lazer, espaços comuns de serviço e espaços individuais multi-uso (dormir, trabalhar). A simplicidade permite abandonar paredes e libertar o movimento. Ainda que as intempéries possam ser um problema grande em lotes urbanos, elas nunca são tão sérias a ponto de impedir a simplicidade de poucas paredes, de poucas coberturas, de pouca construção, de materialidade mínima. O segundo conceito é a permeabilidade. O isolamento é uma doença do homem moderno. Uma construção permeável não precisa ser aberta para o mundo.
Em arquitetura, é sempre melhor que a unidade da obra aconteça por aquilo que ela contém, não necessariamente por sua materialidade. A unidade funcional deveria vir depois da unidade estética, material, visual. Habitar é algo suficientemente importante para corresponder a uma arquitetura. Logicamente, falta muita coisa para que se possa fazer esse tipo de arquitetura em sítios predominantemente urbanos.
Nessa casa os moradores são convidados a viver o lugar em vez da arquitetura. É preciso ser muito humilde, como arquiteto, para projetar e construir uma casa desse tipo, um espaço em que a mão do homem é no máximo uma adaptação do espaço natural, um pedido de licença para habitar um lugar que não é só dele.
Matéria publicada na revista: ArquiteturaeConstrução