domingo, 24 de abril de 2011

ELE ME APRESENTOU PABLO NERUDA

Numa das minhas muitas idas e vindas entre Salvador e Fortaleza na adolescência, passava sempre por Juázeiro da Bahia, onde ficava hospedada por vários dias desfrutando da hospitalidade da sua casa que a  todos acolhia. Você descortinou em mim, sem ter noção do que fazia, muitas emoções e um novo horizonte. Tatuou em meu cérebro a beleza e a graça de degustar poesias, disparou esse gatilho ao pegar na estante do seu gabinete o livro "20 Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada" e  recitar em castelhano o poema de número 15, que abaixo transcrevo. Lembro de você com muitas saudades, pelos velhos e bons tempos, pelo jeito singular de ser: Humberto Carlos Guimarães Pereira (1928 - 2011), médico por vocação e intelectual nas horas vagas.
Gosto de ti calada porque estás como ausente
e me escutas de longe, e minha voz não te toca.
Parece que os olhos te houveram voado
e parece que um beijo te lacrara a boca.

Como todas as coisas estão plenas de minha alma,
emerges das coisas plena da alma minha.
Borboleta de sonho, te pareces a minha alma,
e te pareces à palavra melancolia.
Gosto de ti calada e estás como distante.
E estás como queixando-te, borboleta em arrulho.
E me escutas de longe, e minha voz não te alcança.

Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longínqüo e singelo.

Gosto de ti calada porque estas como ausente.
Distante e dolorosa como se houvesse morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E estou alegre, alegre de que certo não tenha sido.


Entre no link abaixo e experimente a emoção de ouvir, declamado pelo autor em espanhol, o poema de número 15, do livro "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada", publicado em 1924:
 http://www.paixaoeromance.com.br/poetasfamosos/neruda/neruda_vinte_poemas/15/poema15.htm   
                               
Neftalí Ricardo Reyes (Pablo Neruda) - Chileno e um dos maiores poetas do século XX (1904 - 1973), com o volume autobiográfico "Confesso que vivi" ganhou o prêmio Nobel de Literatura, 1971.